segunda-feira, 3 de junho de 2013


“O rouge virou blush. O pó-de-arroz virou pó-compacto. O brilho virou gloss.
 O rímel virou máscara incolor. A Lycra virou stretch. Anabela virou plataforma.
 O corpete virou porta-seios. Que virou sutiã. Que virou silicone. A peruca virou aplique… 
interlace… megahair… alongamento. A escova virou chapinha. ‘Problemas de moça’ viraram TPM.
 Confete virou MMs. A crise de nervos virou estresse. A purpurina virou gliter.
 A tanga virou fio dental. E o fio dental virou anti-séptico bucal. Ninguém mais vê: O à-la-carte
 porque virou self-service. A tristeza agora é depressão. O espaguete virou miojo pronto.
 A paquera virou pegação. A gafieira virou dança de salão. O que era praça virou shopping.
 A areia virou ringue. O LP virou CD. A fita de vídeo é DVD. O CD já é MP3. 
É um filho onde eram seis. O álbum de fotos agora é mostrado por e-mail.
 O namoro agora é virtual. A cantada virou torpedo. E do ‘não’ não se tem medo.
 O break virou street. O samba, pagode. O carnaval de rua virou Sapucaí. 
O folclore brasileiro, halloween. O piano agora é teclado, também.
 O forró de sanfona ficou eletrônico. Fortificante não é mais Biotônico. 
Polícia e ladrão virou Counter Strike. Fauna e flora a desaparecer.
 Lobato virou Paulo Coelho. Caetano virou um pentelho.
 Elis ressuscitou em Maria Rita. Raul e Renato. Cássia e Cazuza. 
Lennon e Elvis. A AIDS virou gripe. A bala antes encontrada agora é perdida.
 A violência está maldita. A maconha é calmante. O professor é agora o facilitador. 
As lições já não importam mais. A guerra superou a paz. E a sociedade ficou incapaz. 
De tudo. Inclusive de notar essas diferenças.”
Luís Fernando Verissímo

Boa semana minha gente!


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